quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Rainy Christmas
Mesmo que você não queira e esteja conscientemente armado, sabendo que isso tudo é criação de mega-indústrias, estabelecida sobre o nascimento de um pobre cidadão como eu ou você que a gente nem sabe se existiu, a “magia do Natal” te escapa.
São luzes, cores, aromas, tudo o que te faz lembrar uma infância devidamente açucarada pela sua inexata e traiçoeira memória.
Eis você curtindo bode num dia de chuva, longe da família e com umas saudades hediondas sabe-se lá de que. Verdade que se estivéssemos juntos, a TV – O Rei! – seria a protagonista do encontro e estaríamos todos satisfeitos de haver na casa pelo menos um cômodo para cada um se encontrar, a sós, com sua frustração.
Telefonema para os amigos antigos.
Alguns estão, outros não. Felicidades, tudo de bom. Sim, nós temos que nós visitar. É claro, no ano que vem.
Telefones são portais para invisíveis visíveis, finda a ligação, retorno violento à realidade... chuvosa.
Ausências pululantes, meus fantasmas ainda vivos, cultivados com tanto carinho e vitimização, cantam em roda um jingle bells coreano, paraguaio, sem a pretensão de ser original – É só uma lembrancinha, não repare.
Oh, não precisava... nada disso precisava. Mas ainda assim eu não estaria em paz.
Feliz Natal então, mais uma noz, outra cidra, mil papais-noéis de chocolate comidos às escondidas.
Feliz Natal, Papai Noel! Arranca do saco vermelho um de seus duendes em cujas mãozinhas esteja o necessário para aniquilar o meu juízo de chato permitindo, de bom grado, minha participação nessa “magia coletiva”.
Qual sua graça?*
Achim, Adélio, Adelu, Agrimaldo, Aila, Alexinaldo, Alfeu, Algis, Altamiro Chaveiro, Altanira, Amair, Amarinho, Andrassy, Andrigo, Ararino, Arolde, Aron, Ataru Futata, Atenir, Aurogil, Axel, Aziz, Braulino, Brasílio, Canaba, Celeida, Claribal Te, Consíglia Prócia (!), Cordéila, Crismélia, Darlan, Darlei, Dávio, Dea, Dejanira, Deolisses, Deuslaine, Dezidério, Divosir, Donivaldo, Dornival, Ediolea, Edy, Eladir, Eldeomar, Elenauro, Elíbia, Elimário, Elinston, Elírio, Eloína, Emídia, Emir, Eraque, Erenir, Ermindo, Ernestides, Erotides, Esmeraldo, Eumis, Eustáquio, Eustórgio, Evandir, Evania, Ferola, Fioravante, Flaudina, Galba, Genito, Gentil,Gerardo, Geryston, Giannandréa, Gidéia, Gilcéa, Gillo, Gilvan, Girlene, Gitalbe, Givanildo, Glaci, Glenyo, Gorgulho, Grenne, Guerino, Harlan, Hildebrando, Huguetta, Idi, Ilário Dobeck, Iler, Imarita, Índio Brasileiro Rocha (!), Iraildes, Irione, Ivanise, Jafeth, Jaldo, Jales, Jamir, Janeide, Jaura, Jedion, Jether, Jezler, Jocielle, Jomar, Jones, Jozyberg, Jucilene, Juice, Kalinca (!), Keyler, Lélio, Leocípedes, Leon, Lindinalva, Lindomar, Linomar, Lothar, Marilise, Mariluza, Mariney, Marinildes, Marionaldo, Marise, Marluce, Nakul, Nassin, Nelcino, Nicanor, Nicesau, Nipho, Nírea, Nixon, Nobim, Nobuo, Nuaj, Odamar, Odelir, Odenir, Ogui, Orandy, Orion, Orival, Orozina, Osmane, Osni, Osvino, Otmar, Otomar, Ozil, Pantaleão (!), Prazeres, Ramao, Reinoldo, Sady, Salada Denovoa, Santusa, Shiomara, Signei, Silvania, Simplício (!), Sóstenes, Spencer, Stael, Sylla, Synésio, Tanus Aguaidas, Tel, Urbino, Valdira, Valécia, Vanderilo, Venício, Vilibaldo, Vilno, Voneide, Waltermino, Warner (!), Wilmar, Winston, Wyk, Ynessa.
*Lista de nomes coletados em dois meses com trabalho de pesquisa em telemarketing.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Carta aos os meus filhos por vir
Percebi hoje que minhas mãos estão sempre ocupadas, e que, quando parada, me vejo trocando o peso de uma perna para a outra, semelhante um joão-bobo em câmera lenta, como vi muitas vezes minhas irmãs, primas e tias se transformarem sobre o pretexto de ninarem suas crianças.
Poderia ser que nas mãos eu trouxesse chupetas ou super-heróis ou qualquer bagunça salutar que deixasse seus resíduos para a gente catar.
Há tempos sonho com menininhos e menininhas de olhos espertos que têm algum traço da personalidade ressaltado de acordo com a fase pela qual eu esteja passando.
Os vejo sempre e àqueles que não são meus mas que me dão um desejo de matriarca do mundo, com casa, afeto e condições tantas quantas fossem as boquinhas e coraçõezinhos famintos – eu já chorei pelas meninas da China.
Escrevo a todas as possibilidades de vocês porque hoje, por sua aparição em mais um sonho, passei o dia todo com um receio monstruoso de destratar ou fazer mal de qualquer modo ou a quem quer que fosse (e motivos tive muitos que teleatendente nessa vida parece dar a devida permissão para proferimento dos mais cabeludos impropérios), acometida de uma crise piegas de saber que todos são filhos de alguém e, mesmo não tendo nascido sob as melhores circunstâncias, já foram objeto de sonhos e projeções e despertaram o que de melhor poderia haver em algum homem e/ou mulher.
Pode ser também que eu tenha ficado pensando que o Zé e a Lu vão ser pais, e o Berro - o Berro! – é pai da Isis... e até a Soraia gerou o Valentino, e ele é lindo.
Foi por causa de um narizinho rosado, dentro de uma cara rosada e cheia de rugas dormindo tranqüilo no meu sonho que eu dei uma abraço no velhinho que cumpre função de caseiro no lugar onde trabalho. Também porque então se confundem a minha vontade de ser mãe com as saudades que eu tenho de ser filha, e talvez por isso eu tenha dado um telefonema carente e meio desesperado, tentando romper a distância mais que física entre eu e minha mãe.
Eu os embalo sempre, mesmo sendo esboços, e acho optei por toda essa loucura diária de uma vida fora do aquário na tentativa de aprender qualquer coisa de útil a uma outra vida, guardando o receio e um certo orgulho implícito (não sem um desejo louco de companhia) de com isso condenar mais alguém à existir “pelas bordas”.
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
E...
Tenho a impressão de que passo a vida pedindo desculpas, e criando situações insustentáveis, e chorando escondida enquanto subo por ruas escuras, e ficando sempre no meio de duas pessoas que se amam ou odeiam muito e para as quais eu não sou mais que mediadora, e quase morrendo de amor, e com medo de que me vejam de tal ou qual maneira, e escrevendo textinhos bregas e cheios de "e". E... perdendo meu fôlego curto e insistente.
sábado, 29 de novembro de 2008
Particular, partculaaaaaaaaaaaar...
(O Peqeuno Burguês - Martinho da Vila)
Felicidade, passei no vestibular
Mas a faculdade é particular
Particular, ela é particular
Particular, ela é particular
Livros tão caros tantas taxas pra pagar
Meu dinheiro muito raro,
Alguém teve que emprestar
O meu dinheiro, alguém teve que emprestar
O meu dinheiro, alguém teve que emprestar
Morei no subúrbio, andei de trem atrasado
Do trabalho ia pra aula, sem
Jantar e bem cansado
Mas lá em casa à meia-noite tinha
Sempre a me esperar
Um punhado de problemas e criança pra criar
Para criar, só criança pra criar
Para criar, só criança pra criar
Mas felizmente eu consegui me formar
Mas da minha formatura, não cheguei participar
Faltou dinheiro pra beca e também pro meu anel
Nem o diretor careca entregou o meu papel
O meu papel, meu canudo de papel
O meu papel, meu canudo de papel
E depois de tantos anos,
Só decepções, desenganos
Dizem que sou um burguês muito privilegiado
Mas burgueses são vocês
Eu não passo de um pobre-coitado
E quem quiser ser como eu,
Vai ter é que penar um bocado
Um bom bocado, vai penar um bom bocado,
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Hannah Arendt: entre o passado e o futuro
Adorei.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
(I)mobilis
(http://grupoacompanhia.blogspot.com/)
convida para a apresentação da performance:
(I)mobilis
como parte da programação do FEIA
(Festival de Artes do Instituto de Artes da UNICAMP)
Dia: 15 de setembro
Hora: 12:00h
Local: saguão do PB (Pavilhão Básico), UNICAMP (próximo ao Bandejão)
Contamos com sua presença.
IV Festival de Apartamento "Sechiisland (em Campinas)"
O IV Festival de Apartamento Sechiisland aconteceu dia 09 de agosto de 2008, na minha casa em Barão Geraldo/ Campinas, e contou com a presença de doze performers:
Thiago Buoro
Rodrigo Emanoel Fernandes
Ludmila Castanheira
Adriel Visotto
Gilio Mialichi
Viviandran
Thaíse Nardim
Rodrigo Scalari
Flávio Rabelo
João de Ricardo
Isabella Santana
Abaixo, breve registro de suas ações.
"A performance consiste no retorno à memória sexual na infância... A ação ocorre dentro de uma estrutura com diversos elementos que remetem à criança, junto a objetos de fetiche sexual e sadomasoquismo. Através da fusão desses elementos e das texturas sonoras experimentais, proponho brincar com a construção do indivíduo espelhado nas experiências sexuais ocorridas na infância." (Adriel Visoto - Catálogo do Festival).
"O trabalho estabelece relação entre uma imagem virtual resgatada da memória e a imagem materializada do hoje. A ação tem como proposta um encontro simulado entre duas pessoas e é através de uma projeção de imagem e da ação de pintar que se dá esse encontro." (Gilio Mialichi - Catálogo do Festival).
Desde la peninsula a la isla, de Viviandran e José Roberto Sechi
… en video y en vivo ... acciones empezadas en la peninsula dran, completadas e ressignificadas na ilha sechi, país nômade. ... em vídeo e ao vivo ... (José Roberto Sechi - Catálogo do Festival).
"Dois artistas, alguns encontros e a vontade de estreitar nossa relação em uma ação. A possibilidade de abrir canais de diálogos práticos a partir de quaisquer materiais nos interessa, de fazer emergir uma estética do momento, do nosso momento, e, sem demasiada preocupação, colocar algum material próprio em choque com o outro. Que movimentos desejamos fazer? Como recriar em ações nossos desejos? É preciso costurar as nossas peles, fabricar um novelo único de nossas singularidades e vestir o espectador-performer com a nossa carne. Enfim, em primeira instância apenas uma primeira proposição." (Rodrigo Scalari & Ludmila Castanheira - Catálogo do Festival).
"Agir, ou não agir? Não mais apenas ‘ser ou não ser’? E sim, e principalmente, como ser ou não ser? O paradoxo invade a ação e entre personagem, persona ou pessoa não há mais certezas ou dúvidas; há certezas e dúvidas. Ator? Interprete? Perfomer? Eu não sou Hamlet. Mas, poderia ter sido? O filho do rei transformado em mendigo fingindo ser um ator perguntando: “por que eu?” Um homem em conflito, eis a questão. Quantos podemos ser? O que se esconde por trás do que pensamos ser? O que os outros pensam que eu sou, sou? Ou não? Quantas camadas entre o que está dentro e o que é visto por fora. E quanta transformação neste fluxo de relações. Máscaras de pele de papel e tinta impressa. Pele de fio vermelho. A fantasia de mim mesmo. Um velho despertador quebrado, um espelho, papéis em branco, bonecas e flores secas. Linhas e dobras do jogo de um corpo exposto. Dentro ou fora? Pesquisa desenvolvida no programa de mestrado do Instituto de Artes da Unicamp. Orientador: Renato Ferracini, co-orientador: Fernando Villar (UNB). Parceria: Zecora-Ura Theatre /UK. Financiamento: FAPESP. (Flávio Rabelo - Catálogo do Festival).
Casulo nº 1, de João de Ricardo
"Este trabalho é o desdobramento da pesquisa de mestrado em processo de Isabella Santana. Esta performance lidará mais especificamente com temas relacionados ao riso, ao grotesco e ao cômico na Idade Média e Renascimento. Para tal apresentação, a artista propõe-se a (res)significar no topos da ação performática, estudos em torno destes gêneros, analisados na história por escritores como Mikhail Bakhtin, além do estudo de representações grotescas verificadas em esboços de Leonardo da Vinci e, nas gravuras de Andréas Vesalius e Hans Holbein. Como (res)significar estes elementos na ação, atualizando esses dados virtuais, como diria Deleuze, em estado de potência, relacionando ao estudo de notícias e imagens de terror contemporâneos, veiculadas na rede internet?" (Isabella Santana - Catálogo do Festival).
domingo, 31 de agosto de 2008
Mansa
Me deram uma folha em branco para que eu declarasse a próprio punho o motivo de minha saída. Respirei fundo e paralisei, amedrontada com a imersão repentina numa liberdade impensada. Eu teria tanto a dizer. Eu disse tanto, tantas vezes, a quem não podia mais do que ouvir.
Perguntei à mulher atrás do balcão - negra, trinta e poucos anos e meio, funcionária pública e um olhar de gado cabisbaixo - o que eu devia escrever. Ele me ofereceu um modelo, que eu copiei: nome, RG, colégios e aulas das quais eu abdicava, e o motivo. "O faço por motivos particulares".
Cheguei a começar a escrever os motivos reais, ia escrever "choque de ideais" ou "choque com a administração", seguido de "condições inadequadas/insalubres", mas parei no "cho". Cloquei-o entre parênteses e passei-lhe um risco no meio. Fiz com esse "cho" o mesmo que com tudo o que eu teria a dizer, e me senti sendo conivente, covarde,(coagida?), qualquer coisa nessa região entre a garganta e o peito.
Pensei em J.D.R, em sua acertividade, no que ele teria feito ou dito, em como ele "mostraria para eles"... E me lembrei de uns dias quentes em que eu o vi calar para permitir que as coisas ficassem como são.
Logo eu estava preocupada com o que seria agora, sem este, até então, maldito emprego. Alguma coisa saiu errado: a sensação de liberdade que eu havia imaginado sentir, a força que eu supunha ter esse ato, a coragem, tudo isso passou a ser medo das conseqüências.
Já no ônibus, deixei de descer para, ainda que gentilmente, cobrar do motorista o seu atraso. Assim como deixei de mudar de poltrona ou de olhar feio para o adolescente atrás de mim acompanhando com os pés a música alta em seu MP3. Deixei mesmo de puxar a cortina para esconder o sol batendo no meu rosto.
Fiquei no mesmo lugar, com minha bunda esparramada confortavelmente e assoando o nariz, enquanto era levada para casa. Tenho a impressão de que crescer é , antes de tudo, tornar-se um completo manso.
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
Nojo
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Porre
Formiguinhas
Das 09:20 às 15:50, uma formiguinha artista, que teve a má sorte de não nascer cigarra, trabalha numa instituição pública.
Professora de teatro das formiguinhas jovens que poderiam vir a ser artistas, sua função, diferente do que se poderia pensar, é dissuadí-las antes que seja tarde.
As formigas são bastante eficientes em manter as coisas nos seus lugares e em descartar aquelas para que não encontram lugar alocando-as, por exemplo, nas instituições públicas.
quando uma deixa, a outra pega.
Deus não quer preguiçoso em sua obra
porque senão o tempo sobra."
sábado, 26 de julho de 2008
IV Festival de Apartamento "Sechiisland (em Campinas)"
IV Festival de Apartamento
com as apresentações confirmadas das performances:
Sorvênus
do Grupo AcompanhiA,
com José Roberto Sechi, Rodrigo Emanoel Fernandes,
Ludmila Castanheira e Thiago Buoro;
Infanto
Estranho, eu não sou Hamlet
de Flávio Rabelo;
mel-o-drama
Casulo n.º 1
de João de Ricardo;
Desde la peninsula a la isla
de José Roberto Sechi & Viviandran (Chile);
In progress
de Isabella Santana;
Barão Geraldo, Campinas/SP.
Para quem vem pela rodoviária: ônibus 3.32 na rodoviária (trajeto mais longo), ou 3.31, na pracinha próxima à antiga rodoviária, ambos seguindo até o Terminal de Barão Geraldo
A partir do Terminal de Barão Geraldo: linhas 3.20, 3.24 e 3.27
Mapa dos arredores do Local do Festival
Trajeto a pé a partir do Terminal Barão Geraldo
Trajeto de carro a partir da entrada de Barão Geraldo
P.S. Uma garrafa de vinho será bem vinda, mas não obrigatória.
Apoio Cultural:
segunda-feira, 7 de julho de 2008
domingo, 29 de junho de 2008
Marina Abramovic: Transitory Object for Human Use
25 de junho a 2 de agosto
terça a sexta-feira, das 10h às 19h
sábados, das 11h às 17h
entrada gratuita
A Galeria Brito Cimino abre a exposição Transitory Object for Human Use – Objeto Transitório para Uso Humano - da mundialmente aclamada artista plástica, maior representante da performance art, Marina Abramović, que se utilizará da área das 3 salas expositivas da galeria para apresentar suas 12 obras, com instalações e objetos que contam com a participação ativa do público.
O trabalho de Marina Abramović subdivide-se em duas partes: “Corpo do Artista”, em que a performance é executada por ela mesma, e “Corpo Público”, na qual ela pede ao público que participe da performance. As obras por ela concebidas têm participação certa nas mais respeitadas exposições internacionais como Documenta de Kassel, Biennale di Venezia, Centre Georges Pompidou entre outros. Nesta exposição em específico, o público é convidado a ser participante ativo. As instruções relativas a cada objeto estarão disponíveis e a participação depende apenas de ler e seguir as mesmas. Fica a critério de cada visitante o tempo que passará com cada objeto. A expectativa de Marina Abramović é de que o público brasileiro reaja com emotividade e curiosidade características, como ela se recorda de suas visitas anteriores.
Os materiais utilizados na confecção dos objetos que compõem uma mostra, seu processo de escolha, são de suma importância para Marina, que acredita que “o público pode entrar em certos estados mentais com a ajuda do material. O material é muito importante para mim. Uso cristais, cabelo humano, cobre, ferro. Os materiais já têm certa energia". Esta exposição conta com uma infinidade de materiais a serem sentidos e vivenciados, uma vez que a parte ritualística e sua mensagem espiritual são dos componentes mais importantes no participar inteiramente do trabalho.
Esta exposição pertence ao “Corpo Público” das criações da artista. Marina Abramović declara: ”Eu estou interessada em performances que podem parar o tempo. Você está lá, e esquece o tempo - essa é a razão principal”.
Obras:
• Time Energizer (estruturas de alumínio com ímãs)
• Soul Operation Table (alumínio, neon, telas de algodão colorido)
• Rejuvenator of the Astral Balance (cadeira, metrônomo)
• Black Dragon (quartzo azul, quartzo rosa, hematita, quartzo verde, quartzo hialino)
• Reprogramming Levitation Module (flores de camomila desidratadas, banheira de cobre, quartzo)
• Waiting Room / Room for Departure (ferro, quartzo negro, lapis-lazúli, quartzo hialino, crisocola)
• Inner Sky (ferro, geodo de ametista)
• Chair for Departure (ferro, ametista)
• Red Dragon (cobre oxidado, quartzo rosa)
• White Dragon (cobre oxidado, obsidiana)
• Mambo at Marienbad (ferro, couro, ímã)
Natural de Belgrado, Iugoslávia, Marina Abramović, desde o início de sua carreira nos anos 70, quando estudou na Academia de Belas Artes, tem sido a pioneira no uso da performance como forma de arte visual. O corpo sempre foi seu tema e sua mídia. Explorando os limites físicos e mentais de seu ser, ela suportou a dor, a exaustão e o perigo, na busca da transformação emocional e espiritual, com performances, som, fotografia, vídeo, escultura. Seu trabalho figura em numerosas coleções públicas e privadas, além de contar com participações nas mais renomadas mostras de arte internacionais.
Tendo atingido o ápice de sua carreira, Marina Abramović é descrita por James Westcott, que prepara sua biografia, como a mais importante performer atual. Seu diferencial, segundo Westcott, é ser parte artista e parte atriz. “Tanto quanto ser uma performer carismática, Marina também possui um apurado senso estético. Ela é uma mestra em criar imagens intensas que irão permanecer por muito mais tempo do que a duração das performances” – declara Westcott.
Em 2010, dois acontecimentos marcantes na vida da artista já estão marcados. O MoMA – Museum of Modern Art – NY, fará uma retrospectiva em homenagem à obra da artista mulher e também será inaugurada, em Hudson, NY, a Abramović Foundation, espaço dedicado a ensinar e preservar a performance art. Sem fins lucrativos, a Abramović Foundation não terá palcos, e sim espaços para performance. Além de ministrar workshops e cursos públicos, a fundação terá biblioteca e programa de bolsas de estudo. As performances são momentâneas, passageiras, de acordo com a artista, mas a Abramović Foundation será a obra que ela deixará como registro no tempo.
“Nós não ensinaremos só os artistas; nós também queremos educar o público.”
sábado, 28 de junho de 2008
Wall-e
O pequeno autômato apaixonado é Charles Chaplin - no espaço! A paixão cega pela robô Eve, a solidão, o interesse na humanidade, o jeito atrapalhado, os olhos tristes e ao mesmo tempo engraçados, os problemas com as autoridades e até mesmo a mudez (toda a "voz" do robô é composta por pequenos sons criados por Ben Burtt - o lendário designer de sons da série Star Wars) reforçam essa idéia de que esse mega-blockbuster tecnológico é, em essência, uma comédia romântica do cinema mudo.
“FRAGMENTS”, DE PETER BROOK
O espetáculo reúne cinco textos do consagrado escritor Samuel Beckett
JULHO/2008 – Nos dias 3, 4, 5 e 6 de julho, o SESC Santana recebe o espetáculo “Fragments”, que reúne quatro pequenas peças do dramaturgo irlandês Samuel Beckett: Rough for Theatre I, Rockaby,Act without words II, Come and Go e o poema Neither.
A direção é de Peter Brook, uma das referências do teatro contemporâneo, com a colaboração de Marie-Hélène Estienne. Brook já trouxe para o Brasil as montagens de “O Terno”, em 2000; “Hamlet”, em 2002 e “Tierno Bokar”, em 2004.
“Fragments” foi criado em francês, em outubro de 2006, no Théâtre dês Bouffes du Nord, de Paris, com a colaboração de Lilo Baur. Em setembro de 2007, foi retomado em inglês com o Young Vic Theatre e permanece em turnê. O elenco que se apresenta na turnê brasileira conta com os atores Hayley Carmichael, Khalifa Natour e Marcello Magni.
A primeira parte da apresentação, Rough for Theatre I, é o encontro de um músico cego e um morador de rua em cadeira de rodas que criam uma relação de dependência mútua; a segunda trama, Rockaby, é sobre uma mulher que escuta a sua voz enquanto se despede da vida, sentada na mesma cadeira em que sua mãe morreu. Act without words II é uma mímica em que dois personagens de temperamentos diferentes dão o tom humorístico à encenação, contrapondo-se ao poema Neither, de tom mais sombrio. Come and Go é a história de três senhoras fofoqueiras que compartilham um segredo.
Os textos, encenados em 55 minutos, têm estilo simples e direto para tocar o espectador de diferentes formas. “No teatro, pessoas de mundos diferentes podem se reunir durante algumas horas. Acredito que algo simples e puro pode tocar profundamente o público”, diz Peter Brook.
Sobre Fragments
Segundo Peter Brook o projeto é uma iniciativa de sua colaboradora Marie-Helene Estienne, que durante anos comentou o fato de que estes textos curtos de Beckett não alcançavam grande sucesso ao serem representados.
Para Brook, eles talvez não cativassem o público porque eram transformados em grandes encenações. Sobre a simplicidade de “Fragments”, ele declarou que “se as pessoas vierem - e isso pode acontecer - esperando ver os mesmos velhos espetáculos de 30 anos atrás, pensando que verão fogos de artifício, vão ficar desapontadas. Vão achar que foram à peça errada”.
Segundo o diretor, é necessário entender que essa encenação não é um show, não é estético - todo o trabalho é puro e simples e os elementos externos à cena não são interessantes. Hoje ele pensa que não sabe mais dirigir grandes produções: ”Eu não sei mais fazer isso. Eu deixei tudo isso de lado. Eu realmente gostava daquilo, mas hoje eu sei que algo simples e puro me toca mais profundamente. E isso é tudo”.
Em relação a Samuel Becklett, Peter Brook diz que “toda a grandeza e a exuberância que percebíamos em Shakespeare se torna algo linear, num tom mais introvertido. Ele é mais econômico que Tchecov. E isso me interessa muito. O meu trabalho já vem de algum tempo se tornando cada vez mais e mais simples. A simplicidade é algo que vai se tornando cada vez mais difícil nestes tempos. Mas hoje eu sei que aquilo que é puro e simples toca o espectador. É nisto que estou interessado. E o teatro de Beckett, para mim, é exatamente assim”.
Peter Brook
Peter Brook nasceu em 1925, em Londres. Quando tinha 20 anos, causou grande polêmica no meio artístico com a montagem da peça “Romeu e Julieta”. Também teve grande destaque em outros gêneros como Cinema e Ópera.
Em 1971, Brook fundou, em Paris, o Centro Internacional de Pesquisa Teatral (Centre International de Recherche Théâtral-CIRT), que depois da abertura do Théâtre des Bouffes du Nord passou a chamar-se Centro Internacional de Criação Teatral (Centre International de Création Théâtral -CICT).
Ele dirigiu inúmeros textos de Shakespeare para o Royal Shakespeare, Peine d’amour perdu (1946), Mesure pour Mesure (1950), Titus Andronicus (1955), O Rei Lear (1962) e Sonho de Uma Noite de Verão (1970).
Marie-Hélène Estienne
Marie-Hélène Estienne trabalha como assistente de Peter Brook em vários projetos e adaptações.Já atuou como jornalista e participou de diversos projetos no teatro e no cinema, como autora ou assistente de produção. Em 1977 foi para o Centro Internacional de Criação Teatral (CICT) e tornou-se assistente de produção de todos os projetos desde então. Foi colaboradora na direção e co-autora do texto em francês com Jean-Claude Carrière da Tragédie d’Hamlet, criada em maio de 2002, entre outras obras.
Serviço – Fragments
Texto: Samuel Beckett
Direção: Peter Brook
Colaboração: Marie-Hélène Estienne
Elenco: Hayley Carmichael, Khalifa Natour e Marcello Magni
Iluminação: Philippe Vialatte
Local – SESC Santana
Av. Luiz Dummont Villares, 579 – Santana – Tel: (11) 2971.8700
Estréia: 3 de julho de 2008
Temporada no SESC Santana 3, 4, 5 e 6 de julho de 2008. Quinta, sexta e sábado, às 21h. Domingo, às 19h30.
Duração: 60 minutos
Recomendação: 14 anos
Venda de ingressos: a partir de 27 de junho, às 14h.
Ingressos – R$ 7,50 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes)
- R$ 15,00 (usuário matriculado no sesc, maiores de 60 anos, estudantes e professores da rede publica de ensino)
- R$ 30,00 (inteira)
Informações - SESC Santana
Avenida Luiz Dumont Villares, 579. São Paulo - SP
Horários de funcionamento: de terça a sexta, das 13h às 21h30.
Sábados, das 10h30 às 20h30. Domingos e feriados, das 10h30 às 18h30.
Informações: (11) 2971-8700, www.sescsp.org.br
e-mail: email@santana.sescsp.org.br
Carnes Frescas
sábado, 17 de maio de 2008
4, 75
Vinha pelas ruas de um lugar inexistente, depois do último dia de aulas na semana e de perdido o ônibus das 16:00hs, o que significaria uma hora a mais, ociosa e sem muitos atrativos para chegar em casa, perdida numa cidade não tão vizinha.
Amaldiçoava o mundo, ou pelo menos aquele pequeno pedaço de continente inexpressivo, por não respeitar sua opção vegetariana e manter todos os seus estabelecimentos abastecidos apenas com salgados que levam carne.
Tudo o que queria - além de não ter perdido o ônibus - era um pão de queijo quentinho.
A cabeça latejando o eco das crianças, o mau-humor se presentificando quase como um estranho a quem se pode dar "bom dia" a contragosto, virou uma das poucas ruas dali e deu com um letreiro da Nobel.
Entrou resoluta e ainda se perguntando se não seria algum efeito semelhante às miragens nos desertos, e sentiu feliz ao avistar fileirinhas amarelo-claras dos mais belos pães de queijo.
Não havia ninguém no café, e ela se ouviu dizer "Oláááaá´?". Ao que foi respondida por outra fileira, agora de dentes também belos, encimados por dois olhos verdes.
Pediu o pão de queijo e um chocolate quente, comendo o pão de queijo muito rápido enquanto a dona dos dentes e dos olhos preparava o chocolate; ela mostrou uma caneca de vidro alta e transparente, perguntando se podia serví-lo ali. "Siiiiiiiiim".
Estava quente e as raspas de chocolate derretiam. Os olhos verdes lhe ofereceram uma colher para comê-las. Ela quis, e reparou nas unhazinhas curtas das mãos dos olhos quando ela veio lhe trazer.
Poderia ser uma exigência calcada na higiene, além de algum outro motivo que levaria seus pensamentos para lugares magnífcos.
Não pôde saber se foi o chocolate preparado de maneira tão caprichosa, ou a visão das unhas pequenas lhe conduzindo a pensamentos luxuriosos, ou ter se imaginado em Paris por alguns segundos, ou uma coisa embalando a outra e descendo quente e espessa pela sua garganta.
O fato é que foi tomada por uma felicidade repentina, difundida, circular. Algo semelhante a um orgasmo ou pós-orgasmo, quando tudo se dilata e relaxa. Uma explosão colorida de cansaço e sensação de acolhimento, como se houvesse mesmo outro corpo (talvez com dois olhos verdes e fileiras de belos dentes) e toda a superfície morna da sua pele envolvendo e aquecendo a dela.
- Bom ter encontrado essa Nobel aqui. Faz tempo que abriu?
- Pouco mais de uma ano (e um largo sorriso).
- Huuumm... (um espreguiçar de gato). Quanto deu?
- 4, 75. No caixa, por favor.
- Obrigada.
E ela de volta à rua, um tanto perdida e a dez minutos do próximo ônibus, flanando.
She was dying
Eu estava ajoelhada no chão da cozinha de minha casa sob uma bacia e a cada lado minha mãe e minha irmã mais velha. Eu estava de branco e tinha uma criança no colo, e misturava na bacia, com uma das mãos, leite em pó e água muito empelotados.
Enquanto isso, dizia à minha mãe que havia encontrado uma planilha antiga de anotações sobre minha saúde. Ela perguntava: "Algo sobre sua pressão arterial?" e eu: "Sim, eternamente baixa, 9:6".
Neste exato momento, todas nós olhamos em direção ao banheiro de minha casa, que agora é uma porta e dá para a rua. Lá passa correndo um homem com uniforme do exército em tons de cinza. Minha mãe chama por ele "O que houve dessa vez"?
O homem vem até nós. Está aflito. É meu pai, bem mais jovem. Ele diz não saber o que está havendo com as poucas mulheres que restam no mundo. Conta que a moça grávida de uma menina - eu me lembro de sua imagem festejada nos noticiários - está com um nódulo grande no seio. Ele olha para mim e eu compreendo que a moça grávida sou eu.
Minha mãe está desesperada e esta cena não tem som. Ela quer impedí-lo de alguma coisa, mas ele continua me olhando e, na esperança que eu não ouça ou não entenda, diz: "She was dying".
domingo, 30 de março de 2008
10 de março
Se eu tivesse certeza de uma morte tranquila, eu pediria que me construíssem um barquinho confortável onde eu pudesse me acomodar deitada e que o pusessem no mar.
Eu gostaria de ter feito uma boa refeição antes para não ser incomodada pela fome, e de ter batido muito em alguém que merecesse e não reagisse para haver cansaço, mas não culpa ou hematomas.
Seria bom garantir que eu não sofreria qualquer alteração nos batimentos cardíacos, espasmos ou sustos. Talvez pudesse haver uma droga que fosse apagando os meus sentidos aos poucos e de maneira indolor. Eu poderia então assistir o Sol se esvaindo para depois dormir meu sono eternamente embalado pelo mar.
E seria poético: diriam da proximidade do meu nascimento e morte e se inquietariam com a incompletude do ciclo de meus anos.
Os rasos fariam a associação peixe/mar, os sensatos se perguntariam sobre a qualidade do revestimento de minha cama de morrer, e talvez até alguém pensasse em Guimarães Rosa.
Poderia ser que fizessem piadas. Ou que meus planos falhassem e eu me afogasse ao invés de boiar. E então fizessem piada disso, uma piada pronta ainda que morta.
domingo, 9 de março de 2008
Festival de Apartamento - Formulário Contínuo
Silêncio. Rodrigo prepara papel e máquina e eu (Ludmila) me preparo para reagir aos sons que ele tirar deste "instrumento".
Enquanto danço os sons da máquina de escrever, Sechi começa a insistentemente colar adesivos no meu corpo, batendo em cada um deles e me oferecendo mais sons além da máquina.
Sechi e eu: interação, movimento, cansaço.
Pela natureza dos sons, o improviso dos meus movimentos se dá de maneira quebrada
O percurssionista se rende.
Ao apagarem-se as luzes, percebe-se que os adesivos do Sechi eram letras fosforescentes, e elas ficam todas espalhadas pelo chão e pelo meu corpo que devagar cessa os movimentos.
Visível apenas para os olhos... impossível de se registrar com câmeras.
quinta-feira, 6 de março de 2008
Darkson
Lá não há pudores em se dispensar as cinzas, a bituca e tudo quanto for resíduo de cigarro no chão imundo.
Sim, eu estive lá. Garanto minha passagem de volta comprando-a diretamente das mãos de um atendente de nome Darkson. A ele não preciso mais informar meus destino e horário: tem sido assim às segundas, terças, quartas e sextas.
15 de Março
Eu vivo entre as crianças e gosto de muito poucas. Eu sou uma criança e gosto de ter as coisas ao alcance das mãos.
Uma vez um cara leu a minha mão e disse que eu não faria muitas viagens na vida. E que porra é essa de ir e vir todos os dias nestes ônibus toscos para cidades de merda? O sobrenome do cara que leu a minha mão é "Leão". Me lembra a história da Dorothy.
Se eu tivesse sapatinhos mágicos, eu não os usaria para ir e vir mais rápido das cidades de merda, mas talvez ficasse com a parte do tornado... Um tornado que arrancaria das bocas todos o "r" (por que as pessoas do interior têm de puxar o "r"?). Eu sou do interior e não puxo e "r".
Mentira: eu não sou mais do interior, mudei as circunstâncias do meu nascimento. Eu agora sou filha de Napoleão (Leão!) Bonaparte, Nabucodonosor, Nina Simome, Neil Gaiman, e todas as outras grandes figuras começadas com a letra "N"... Mas continuo gostando do do dia 15 de Março, é dia do Circo.
sábado, 23 de fevereiro de 2008
Sandrimárcio
Como há coisas tão pequenas que nos afetam tão completamente... de certo, reverberam em algum lugar do ego que por alguma razão se formou frágil.
Eu sei que tem vezes em que eu me guardaria para dentro, me fechando numa costura caprichosa, tecendo ponto a ponto com linha resistente.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
- Viviandran (Chile) e Valéria (Argentina) em: Dion & Siacas;
- Grupo Acompanhia (José Roberto Sechi, Rodrigo Emanoel Fernandes e Ludmila Castanheira) em: Formulário Contínuo;
- Thiago Buoro em: Invocação de Vênus Atacada de Lepra;
- Ieda Genizelli em: Palhaço sem Circo;
- Letícia Tonon em: Oferenda a Ogum e
- Sandra Bretas em: Beijos Malditos
Sábado, dia 9 de Fevereiro de 2008, às 20 horas
na SECHIISLAND: Av. M-29, 2183, Jr. São João, Rio Claro/SP.
PS: uma garrafa de vinho será bem-vinda, mas não obrigatória