quarta-feira, 3 de junho de 2009

Antes do sol nascer, em Campinas...




(Imagem de Alison Brandy)


Mal-humor de ter perdido o ônibus pra São Paulo por dois ou três minutos. Trinta até o próximo. Me sento sob a brancura das luzes da rodoviária, num dos sofás amontoados da das lojas ainda por abrir. À minha frente um grupo conversa em linguagem de sinais. As vezes eu desejo que sejamos todos assim: silêncio divino de exclamações mudas.
À minha esquerda, um homem enrolado num lençol. Só vejo suas pernas e parte do boné. Me lembra uma coxinha gigantesca que aparece num comercial de remédio para digestão.
Há um outro homem e ele fala sozinho, gesticulando. Ele me olha e diz que sabe que está falando sozinho, que construiu uma gaiola muito confortável para os filhos e agora eles não saem mais de lá. Quem voa é ele. Bebe de uma garrafa plástica e conta que aquilo é leite do Ceará, que ali não tem cocaína, mas é perigoso. Penso no Flávio e seu trabalho com os "estranhos".
Gêmeos. Dois rapazes com roupas que se parecem uniformes da frota de Jornada nas Estrelas. Imagino se em algum momento um Klingon me dará um tapinha nas costas, ou ouvirei um chamar ao outro de Number one.
O rapaz mudo gostou do meu chapéu. Acho que foi isso que o vi "dizer" aos outros. Eu sorri para eles.
Vive la France!, grita o homem da garrafa sem cocaína.
Enquanto isso, na rádio tocando dentro da minha cabeça, se alternam trechos de Man of the hours e do Rei, com pergunte pro seu coração, você vai ver que ainda me amaaaa...