quinta-feira, 27 de outubro de 2011

I wanna be a loser

Tempo acelerado, quebra nas convenções, época deselegante em que nada se basta sutil. Os amores vão num clímax irrefreado, explodem, gritam, esfregam-se felicidades plenas pelas redes sociais. Os desafetos se publicam e se espetam violentamente, sem ironias, e a atmosfera segue carregada, atulhada, sem espaço para transitar entre os objetos e eventos.

Chorar três vezes na semana (sempre às escondidas), por motivos diferentes e igualmente angustiantes. Engolir a dor junto com maços de cigarro. Fazer exercícios físicos até que toda a mágoa saia pelos poros, no suor (ou até que se conquiste o corpo perfeito). São tarefas que têm se tornado comuns, já realizadas com destreza.

Parar, contemplar, respirar são ações proibidas. Ou para os fracos. A exigência é que se esteja sempre em movimento, e o acúmulo de trabalho é motivo para orgulhar-se: só assim sobra dinheiro para o analista. E há que se mudar de um para outro, antes que se descubra qualquer coisa sobre si.

Fotografar não é um treino para os olhos, mas uma maneira de reter o instante. Milhões de fotos de uma mesma coisa, facilmente apagáveis, editáveis, melhoráveis, contanto que isso não tome muito tempo. Não há espaço para o borrão, para o imperfeito, para menos do que a glória.

Acordar na segunda-feira planejando a terça, e na terça planejando a quarta, até que a semana se tenha ido sem que você tenha se dado conta de si. Criar um novo espetáculo, bater a meta, produzir um artigo, ver o filme sobre o qual todos estão comentando. Tudo para “estar por dentro”, participar da roda dos falantes mudos, dos ouvintes surdos. Todos extrema e integralmente solitários.

Conquistar o impossível, o mais gostoso, o eleito, o seu par. Estar sozinho a dois, a três, em muitos numa festa onde se deve sorrir e participar de todas as brincadeiras engraçadíssimas, mesmo que isso inclua se ferir, ou ferir o outro.

Beber, sempre com um energético a tira-colo, para não cair. Ou beber até cair, na falta de uma anestesia. Mas já com os gatorades e similares na geladeira porque amanhã – ainda hoje – você tem que estar inteiro. Da mesma forma, cheirar, injetar, engolir, mas nunca sem um antídoto altamente eficaz, capaz de reverter quaisquer eventualidades.

Andar depressa, de carro, a jato, ocupar os finais de semana com atividades lúdicas porque também está estabelecido que se deve rir. Ou dormir durante todo o tempo livre, porque nos torna mais competitivos no decorrer na semana de trabalho.

Entupir-se de café, de açúcar para combater a falta de sexo. Transar, muitas vezes em uma só noite, sem que haja uma em que ambos se olharam nos olhos. Tomar remédio para não brochar, ter sempre um “plano B” para o caso de brochar. Beijar tantos quantos possíveis numa noite, e ter o cuidado de não guardar os nomes. Dizer sempre que está atrasado, isso dá status.

É muito importante que se receba, distribua e valide prêmios, bustos, condecorações, certificados, títulos e outros papéis e objetos que atestem a importância daqueles que concordam contigo. Burocratizar, chancelar, carimbar para impedir o fluxo e que se criem os subornos e ilegalidades.

Ser para sempre lindo, jovem, entusiasmado, ritalínico, prozaquiano, lexotânico e o que mais for preciso para preserva-se no Olimpo. Esquecer-se, rápida e cuidadosamente. Nunca ser taxativo, e desdizer-se conforme convier. Esquivar-se das discussões e manter-se do lado mais forte. Não ter ideais, nem escrúpulos, e fazer doações periódicas para ações beneficentes. Adotar um pet, enchê-lo de mimos e dar sempre mostras homéricas da pessoa boníssima que você é.