sábado, 16 de junho de 2012

Sobre espartilhos com zíper e a morte do amor



Eu hoje fui a uma loja de lingerie. Queria um espartilho, com cinta liga, meias e tudo.
Acho que não é exagero dizer que, na maior parte das vezes, uma mulher quer um espartilho para usar com aquela pessoa pela qual tem carinho, com quem a intmidade já rendeu boas transas. Um espartilho tem a intenção de experimentar variações e, antes de tudo, criar um tempo-espaço outro com o nosso par/trio/roda.
O espartilho, não raro, vem acompanhado de um striptease. E, como não somos strippers, de alguma insegurança ou vergonha que vale passar pelo depois.
Não é nem de longe uma peça confortável, e a gente não usa senão para tirar. Melhor: para ser tirada. Isso envolve paciência, mergulhar no corpo alheio e voltar à superfície de quando em quando: divertir-se, deleitar-se. É um prelúdio caprichoso, e a graça é saber, desde sempre, no que vai dar.
Pedi um branco, porque vermelho, no meu estado seria ainda mais arrebatamento, e adoro preto, mas não para esse momento. A moça me trouxe dois modelos... com zíper (!), na frente!
Tive que reprimir a lágrima: estava dado mais um sintoma da morte do amor. Sim, porque tudo bem,  os amantes têm um objetivo claro. Mas não sei sobre maior prazer que inventar curvas, tomar atalhos, divagar no caminho até ele.
Sai de lá com as mãos vazias, e sem vontade de perguntar sobre aquele modelo "antigo" à mocinha que tinha me apresentado o zíper com tanto entusiasmo.
Já na calçada, disfarçando uma cara semelhante à de quem chupou limão, a música do Belchior (assim, brega mesmo, que o amor tem disso) ecoava em minha cabeça: "Prá eu ter tempo, tempo de me apaixonar..."

terça-feira, 12 de junho de 2012

Perplexas



Uma bruxa é uma fêmea - que, porventura, mora dentro de alguns homens também. Antena parabólica, satélite, captador universal.  O perigo dessas transmissões se dirige a ela, sobretudo. As fogueiras, mesmo as pós-modernas, não queimam além da casca. As bruxas estão em combustão perplexa, segundo a segundo, internamente, ante à vida. E as chamas são, justamente, o combustível de sua existência.  Verter sangue junto com as luas é caminhar ao avesso do sol, que escalda.